6.16.2012

Educação após Auschwitz

 
RESENHA


ADORNO, T. W. Educação após Auschwitz. In: Educação e emancipação. Tradução de Wolfgang Leo Maar. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p.119-138.

De origem judaica, Theodor Wiesengrund Adorno nasceu em 11 de setembro de 1906 na Alemanha. Filósofo e crítico musical, Adorno fez parte da chamada Escola de Frankfurt, que contribuiu para o renascimento intelectual da Alemanha após a Segunda Guerra Mundial. A Filosofia de Theodor Adorno, considerada uma das mais complexas do século XX, é fundamentada na dialética. A presente resenha analisará o texto “Educação após Auschwitz” no qual, Adorno ressalta que a principal meta da educação deve ser a de evitar que Auschwitz  se repita.
É necessário primeiro entender o que foi Auschwitz, para depois compreender a proposta de Adorno. Auschwitz, foi o maior campo de concentração de prisioneiros montado pelos nazistas. Localizado ao sul da Polônia a poucos quilômetros da fronteira com a Eslováquia, era constituído de três unidades: o campo de prisioneiros, o de extermínio e o de trabalhos forçados. Embora não seja o único campo de concentração e exterminação alemão, Auschwitz foi um símbolo de terror, genocídio e do holocausto em todo o mundo. Judeus, ciganos, e pessoas de outras nacionalidades eram aprisionados e mortos, fazendo de Auschwitz palco de um dos maiores assassínios em massa da história da humanidade. A Segunda Guerra Mundial deixou marcas e danos irreparáveis não apenas naqueles que sofreram os horrores e as barbáries como vítimas diretas ou indiretas, mas em toda a humanidade, pois a sociedade permitiu que se instalasse uma verdadeira indústria de extermínio de pessoas. Theodor Adorno não queria que isso ficasse esquecido e muito menos que voltasse a acontecer. Segundo ele, a educação precisa ser repensada, para que o passado não seja repetido.
Fazendo uma análise desse período, percebe-se que milhões de pessoas foram mortas de forma planejada pela inteligência humana, e que o homem demonstrou, de forma cruel, a sua intolerância racial, cultural e o exacerbado nacionalismo, que se espalhou por diversos países no século XIX. Adorno usa os estudos de Freud os quais considera que é na primeira infância que se forma o caráter de cada individuo, para mostrar que a repetição de Auschwitz pode ser evitada se for realizado um processo educacional incisivo nesse estágio. Explica ainda que os culpados pelo holocausto não são as vítimas e sim os perseguidores. Fala do sentimento de claustrofobia das pessoas diante do mundo administrado, e que por essa linha, a violência é uma das formas de tentativa de fuga dessa densa rede. A violência, no entanto, não pode atingir a civilização em sua totalidade, sendo assim, as perseguições são voltadas aos considerados socialmente mais fracos e felizes. Além da educação na primeira infância, outra questão abordada por Adorno é o processo de esclarecimento da população, o qual de acordo com ele criaria um clima cultural e social que possibilitaria a não repetição da barbárie. No texto o autor deixa claro que o retorno ao fascismo é uma questão muito mais social que psicológica. Mas, usando a psicologia Adorno explica que as pessoas que assumem compromissos são colocadas numa espécie de estado de comando e passam a agir de forma diferenciada, submetendo-se a normas e compromissos de obediência que cega a autoridade e gera condições favoráveis à barbárie. A falta de autonomia e determinação são condições favoráveis à barbárie, no entanto a conquista da autonomia e o poder para a autorreflexão e autodeterminação é uma forma de repetição de Auschwitz. Os algozes do campo de concentração eram em sua maioria jovens filhos de camponeses o que pressupõe, segundo o autor, ser o insucesso da desbarbarização ainda maior na zona rural, e que tendências de regressão a barbárie existem por toda parte, tanto no campo quanto na cidade.  Uma das possibilidades colocadas pelo autor para amenizar os contrastes da educação zona rural-cidade é a formação de grupos educacionais moveis de voluntários, que ao se dirigirem ao campo preencheriam as lacunas mais graves. Theodor também fala sobre a introdução dos esportes nas escolas, como forma de evitar Auschwitz, mas alerta para as ambiguidades desse método, pois, mesmo sendo positivo, pode promover a violência, a crueldade e o sadismo, a depender da modalidade esportiva. Seria interessante, portanto incentivar esportes que são apenas para diversão, e que sirvam para realizar uma diminuição da agressividade. Outra questão abordada por Adorno é o papel que a tecnologia exerce na formação da consciência coisificada, pessoas desprovidas de emoções que preferem a companhia de máquinas em detrimento dos humanos, tornam-se iguais a coisas, e posteriormente, tornam os outros também iguais a coisas. A deficiência na capacidade de amar pode ser o resultado de pessoas desprovidas de emoções. Adorno deixa claro que não se trata de uma defesa sentimental e moralizante do amor, pois tal incapacidade atinge hoje a todos.
Pode-se notar ao longo do texto a preocupação do autor em evitar que um holocausto como o vivido na Alemanha e em outros países volte a acontecer e que através da educação será possível impedir aqueles que executam ações violentas. Para que Auschwitz não se repita será necessário estudar a formação do caráter manipulador de cada individuo, e identificar o motivo que os leva em condições iguais a ter comportamentos diferentes. A educação, então, é posta como preventiva ao retorno à barbárie, e aos nacionalismos exacerbados, sendo também necessário repensar o tipo de ser humano que o sistema atual está formando e gerando.
A preocupação de Adorno é pertinente e deve ser também dos educadores hoje, pois a sociedade está voltada para um mundo globalizado onde predomina a ideologia capitalista e em que os indivíduos estão sujeitos ao consumismo, individualismo podendo tornar fértil o surgimento de uma nova carnificina como Auschwitz.
A sociedade tem abominado as atitudes dos que provocaram tamanho holocausto, o contexto atual pode ser diferente do vivido em Auschwitz, mas existe a incitação à crueldade em diversos campos da sociedade. A falta de respeito e amor ao próximo, discriminação, preconceito, indiferença diante o sofrimento alheio, diferenças culturais, religiosas e raciais são alguns dentre inúmeros indícios de barbárie que fazem parte do cotidiano de jovens e adultos da sociedade atual.
È necessário, que família, escola e sociedade trabalhem juntos na transmissão de valores, em que a ética, compreensão, compaixão, o amor, respeito e dialogo sejam fatores preponderantes na humanização e na formação do caráter dos indivíduos. Nós como educadores devemos pensar a realidade educacional de nossos alunos e questionar as políticas de educação, não nos acomodar com o que os meios ideológicos nos impõem, precisamos buscar formas de transformar e impedir que pessoas repitam os atos de atrocidades ocorridas no passado.
Texto indicado a educadores e estudantes para que através dele tomem consciência da importância da educação na formação de cidadãos. É importante também para ter consciência de como holocaustos, como o de Auschwitz, não se resume a sua consumação, antes existem uma série de fatos externos que criaram possibilidades para que ele viesse a acontecer.

Joelia da Silva Melo Pena - Aluna do 3º semestre do Curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus V, apresentando resenha crítica para a disciplina: A Formação do Professor de História ministrada pelo Prof. Karl. (2012.1).

3.05.2012

História e Ensino de História

Resumo


FONSECA, Thais Nívea de Lima e. História e Ensino de História. Autentica, 2006.2 ed. Belo Horizonte. p. 7 – 28.

A história do ensino constitui-se um importante tema de estudos na área da História da Educação. Esses estudos privilegiam os processos de elaboração de currículos, definição de políticas voltadas para o ensino de determinadas disciplinas nas escolas e procedimentos metodológicos. A discussão sobre as características de investigação a respeito do ensino e das disciplinas escolares tem levado alguns autores a compreender que a história das disciplinas seria parte do campo da história do ensino. A história das disciplinas escolares estaria, no interior de um campo, identificada aos conteúdos e às suas variadas possibilidades de articulação.
As disciplinas têm sido estudadas no processo de constituição e de consolidação, no qual saberes antes restritos a produção científica acaba tornando-se saberes escolares, constituindo um conjunto de conhecimentos organizados apropriados para a escola, como no caso, por exemplo, de dimensões da vida social e profissional. 
Nos séculos XVII e XVIII, os jesuítas ensinaram temas de História em suas escolas, mas isso não significa que este conhecimento já estivesse organizado como disciplina escolar. Atualmente a designação utilizada define disciplina escolar, como um conjunto de conhecimentos identificado por um título ou rubrica dotado de organização própria para o estudo escolar e com finalidades específicas ao conteúdo.  As disciplinas surgem então, a partir desta concepção como interesse de grupos e instituições, da Igreja e do Estado.
Após a Segunda Guerra Mundial, o aumento significativo do acesso da população ao sistema educacional, estimulou o desenvolvimento de pesquisas sobre as relações entre escola e sociedade. As pesquisas mostravam que a escola era responsável por gerar desigualdade, oferecendo aos pesquisadores elementos para o desenvolvimento de uma análise sociológica da educação que buscasse as razões dessa situação. Os estudos relacionados a mobilidade social e educação, deixaram de lado aspectos importantes, como os conteúdos de ensino, sistemas de avaliação e as práticas pedagógicas. No século XX, nas décadas de 60 e 70, as teorias da reprodução influenciada pelo estruturalismo, negavam à escola o papel de corretora das desigualdades, reconhecendo nela o papel de perpetuadora das mesmas.
Os estudos sobre o ensino e as disciplinas escolares começaram na Europa a buscar na História Cultural, referenciais de análise que dessem conta da complexidade dos processos mais amplos, no qual as disciplinas estivessem envolvidas desde a constituição formal até suas apropriações no espaço escolar.
Somente a partir do século XVIII é que a História começou a adquirir traços mais precisos. Da Idade Média ao século XVII predominava uma história apoiada na religião e marcada por uma concepção providencialista, na qual o curso da história humana definia-se pela intervenção divina. O discurso historiográfico foi deixando de lado genealogia eclesiástica para se fixar na genealogia de dinastias e de nações. Foi somente nos oitocentos que a história alcançou o estatuto científico, sendo que sua afirmação científica se deu no momento em que as ciências alcançavam posições mais solidas e reconhecidas.
Ao longo do século XIX o ensino de História nas escolas deveria obedecer a procedimentos específicos, como adequação de linguagem, definição de propriedades em termos de conteúdo e utilização de imagens úteis à compreensão da história da nação. É a partir desse momento que a História se constitui como disciplina escolar fortemente marcada por uma perspectiva nacionalista servindo de interesses políticos do Estado, como também carregando elementos culturais que garantiam a consolidação da população no processo de construção das identidades nacionais e coletivas.
Podemos concluir que diante das múltiplas relações com as várias dimensões da sociedade, o ensino de história influência e proporciona um leque de possibilidades de abordagens para diferentes grupos. Dessa forma, é apresentada conotações científicas, políticas e culturais facilitando a compreensão do mesmo, pois, há ainda uma grande riqueza a ser descoberta e questionada.

Resumo escrito por Joelia Melo, aluna do 2º semestre do Curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus V.

“A magia do feitiço: apropriações africanas no Brasil Colônia”

Resumo
No artigo analisado a autora esclarece as concepções européias da religião africana nas colônias portuguesas. Analisa ainda a mudança do discurso europeu do termo feitiçaria usada nas práticas religiosas dos africanos e pontua as formas de resistências utilizadas pelos negros africanos, a fim de minimizar as adversidades das relações escravas.
A autora expõe que as práticas religiosas dos africanos eram uma forma de compensar a difícil condição de sobrevivência do sistema escravista. Os feiticeiros, detentores de saberes mágicos, eram requisitados pelos senhores elevando desta forma seu status diante à sua própria comunidade, o que resultava ainda em ganhos materiais. Os negros feiticeiros utilizavam dos conhecimentos de bruxaria para se livrarem da amargura do cativeiro, abrandar a ira senhorial e escapar de castigos e maus-tratos.  É interessante ressaltar a abordagem em relação à tensão social e feitiçaria, nesse sentido é relatado que a resistência ao sistema escravista no mundo colonial se apresentou de diferentes formas, dentre elas, as fugas individuais e coletivas, revoltas e formação de quilombos. Dentre as categorias de resistência ainda estavam os atos de roubos, suicídios e boicotes a produção senhorial, dentro desta perspectiva estava inserida a prática da magia, considerada necessária a formação social escravista visto ser uma alternativa de luta contra o sistema e instrumento da repressão e violência.
Na África Banto responsável pela grande maioria de africanos trazidos para o Brasil, o feitiço é utilizado para várias situações, como, dificuldade financeira, problemas amorosos, cura de doenças e minimização de problemas entre senhores e escravos. Existiam ainda os contra-feitiços, forma de contra atacar as mazelas provocadas por outro feitiço, quer seja do corpo ou do espírito. Na África Central a malevolência religiosa estava ligada a infortúnios temporários, os que usavam forças mágicas para causar danos a outros em beneficio próprio, eram considerados malévolos.  Os africanos acreditavam que o bem e o mal podiam ser controlados através de práticas e rituais religiosos, após contato com os europeus essa concepção religiosa é transformada. Os europeus introduziram uma nova forma de malevolência social e econômica, o comércio de escravos. Para os africanos as guerras, doenças, e outros infortúnios era fruto dos poderes dos feiticeiros brancos, forma que denominavam os europeus.
Um relato muito interessante no texto é a concepção dada pelos africanos aos feiticeiros brancos, segundo cita a autora muitos escravos da costa da África acreditavam que os europeus levavam os africanos para comê-los e aproveitar as partes dos seus corpos. Para eles os europeus usavam de feitiçaria para escravizar e comercializar os corpos negros a fim de enriquecimento.
A escravidão pelos europeus pode ser entendida como uma forma mortal de feitiçaria praticada pelos europeus os feiticeiros brancos. Os portugueses antes de terem contato com sociedades da África já possuíam um discurso de feitiçaria, após conhecerem as práticas religiosas dos africanos eles transferem para esse contexto a história estabelecida entre feitiço e feiticismo. A igreja portuguesa aderiu a construção de feitiçaria européia, na qual Deus usava feitiços e demônio para punir os pecadores e testar a fé dos humanos.
Em conclusão a autora mostra que as práticas religiosas dos africanos eram capazes de transformar a religiosidade em resistência à sua escravização. E ainda que a consulta por parte dos europeus aos adivinhos africanos foi uma forma de aceitação da concepção de mundo da África o que resultou em rachaduras no sistema colonial.

Glícia CALDAS. Este artigo foi apresentado no II Simpósio Internacional sobre Religiões, Religiosidade e Culturas, Dourados/MS- Brasil, 2006.
Resumo escrito por Joelia Melo, aluna do 2º semestre do Curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) – Campus V.